Skip to main content

Pedro Cardoso Trás di Son

 

“Trás di Son”

Quando o silêncio gera música

Cada imagem encerra, no seu silêncio, um som que apenas a sensibilidade dos artistas consegue extrair. Djinho Barbosa é um desses descodificadores de sonoridades que entram pela retina sob a forma de imagem. Três anos depois de começar a “colar” os “pedacinhos de música” que lhe vão surgindo no dia-a-dia, o músico apresenta na primeira semana de Março “Trás di Son”, um disco em que reúne numa enorme celebração do som alguns dos mestres e artistas que lhe marcaram o percurso musical.

No princípio era o silêncio. Depois surgiram as imagens e, com elas, a música. Embora o método da criação não tenha sido exactamente assim, pelo menos esta é a “ordem das coisas” no processo criativo de Djinho Barbosa. Como diz o músico, para ele “existe o silêncio; tudo o mais parte dele”.

Foi assim que, entre silêncios e imagens, que o músico deu corpo a um projecto que agora está pronto a ver a luz do dia. “Trás di Son”, assim se chama, é um disco cozinhado ao longo dos três últimos anos, que acima de tudo pretende prestar tributo aos muitos músicos que o influenciaram artisticamente. E para tal, nada melhor que congregar alguns desses mestres neste projecto que agora nasce.

A plêiade de 35 artistas que assinam este trabalho é de peso. Nela encontramos nomes de várias gerações como os de Kaká Barbosa, Paulino Vieira, Russo Bettencourt, Nhelas Spencer, Sanna “Peppers”, Kim Alves, Carlos Modesto, Chando Graciosa e Adão Brito, ou os de Gamal, Princesito, Tó Alves e Djodji TC. A estes artistas com raíz bem fincada no mundo da música cabo-verdiana juntam-se outros a quem Djinho chama de “anónimos”. São músicos que nunca gravaram nem subiram a grandes palcos, mas cujas potencialidades cantam e tocam por si. Abram alas então a Ilídio Baleno e Annie (dois nomes destes “anónimos”), alguns destes ilustres desconhecidos a que Djinho Barbosa deu a oportunidade de saltarem para as luzes da ribalta.

O resultado destes diálogos cruzados são dezasseis músicas com uma certa “profundidade de campo”, se assim se puder chamar. É que, ao longo das várias faixas há, talvez pela riqueza dos arranjos sonoros e pelas várias sobreposições de instrumentos e vozes, um fio condutor que remete para um ponto focal perdido lá no infinito.

A dar plasticidade a este trabalho de Djinho está também a técnica de colagem – de sons, entenda-se. É que, como revela, as músicas surgem-lhe através de sons que vai captando aqui e ali, geralmente instigados por imagens que lhe passam diante dos olhos, no dia a dia. É nesta união dos “pedacinhos de sons” que vai resgatando aos estímulos imagéticos que lhe entram pela retina, o músico constrói a sua música.

A primeira música do disco, “Un Batuku Xatiadu Si”, é um exemplo deste tomar pequenos elementos já existentes em mãos para, a partir deles, criar algo novo. Nesta faixa Djinho inspirou-se nos picos melódicos do chamado “choro da morte” para daí desenvolver um ensaio em torno do “batuku”. É um “beat” diferente, sem tchabeta, que vai ao encontro da intenção do músico de apresentar um trabalho, se não inovador – “a inovação é extremamente difícil de atingir”, diz -, pelo menos diferente. Esta intencionalidade, aliás, é extensível às outras faixas do disco, como o prova, por exemplo, a morna dedicada a Manuel de Novas, em que um jogo de baixo, guitarra, bateria e de floreados de piano substitui o “clássico” pelo “moderno”, sem lhe retirar a identidade, no entanto. A dar a tónica a estas conversas imprevistas está a espontaneidade com que os sons se soltam. Porque afinal, observa Djinho enquanto escuta o improviso da guitarra de Kim Alves em “Topada na Mazurka”, “é nestes momentos que a música acontece”.

Embora inclua coladeiras, mornas, mazurkas ou batuques, “Trás di Son” não é um disco de folclore, nem o pretende ser. Até porque, para além destes estilos cabo-verdianos, aborda ainda o reggae, samba, e outros géneros universais.

O disco deverá ser lançado na primeira semana de Março. Por enquanto, resta agora ao público aguardar por este trabalho de corte e costura de sons. E que o silêncio esteja convosco.

Fonte: Pedro Miguel Cardoso em Asemana Posted by Picasa

Popular posts from this blog

Tras di Son - Letras di Mukiza

1. UN BATUKU XATIADU SI Música: Djinho Barbosa Letra: Princesito 2. MINDEL MIND – KOLADERA RASGADU Música: Djinho Barbosa Letra: Djinho e Kaká Barbosa n´fazebe es coladera assim nes ton rasgode di sol menor cor d´nha sentimente native bôs note t´inspira un melodia suave k´ta kalentá coraçon d´kriole pa esvanece´l se dia ingrote bô mind bô natureza levobe postá na diferença bô mind bô morabeza vrobe un terra sabin na dvera bôs move t´inspira alma dun criatura pa sarandiá place and place tê ke sol bafá strela ma lua Mindel... n´fazebe es coladera assim un ton vibrode na nha deseje cor d´nha sentimente native Mindel... pa esvanece´l se dia ingrote tê k´sol bafá strela ma lua Mindel Mind... cor d´nha sentimente native Mindel Mind... pa esvanece´l se dia ingrote Mindel Mind... 3. UM ZIBIU PA TIO ABILIO Música e Letra: Djinho Barbosa Tema pa Abílio Duarte ês morna ê um segredo di meu um Son um lamentu di nha coraSon oji n’xinti um bater más forti un pulsar um vibraSon sinceru un sonho um mel

Musica sem Espinhas!

Com Nuno Sardinha, no programa Música sem Espinhas - RDP Africa.

“ Musica é más ki mi menor, é um Pauta cheio de Memória...”

Texto de Abraão Vicente : A semana passada foi a semana com maior movimentação cultural de que tenho memória desde a minha chegada à nossa Praia Maria, capital “calderon cultural”(son di santiagu) de Cabo Verde. Numa só semana : Joaquim Arenas lança “A verdade de Xindu Luz” e abre caminha para a da Feira do Livro, uma grande avalanche de gente faminta de livros a dar a cara e a esvaziar os bolsos na Biblioteca Nacional. Mais uma vez o Centro Cultural Francês a dar o exemplo e a fazer escola na promoção cultural: Quarta: Trio Sulabanco, Quinta Feira: grande Show de Djinho Barbosa e Trás di Son, Sexta Feira abertura da exposição de reciclagem “Do Lixo ao Luxo” de Kajó, Sabado: Raiz di Polón em tourneé internacional também em terras criolas. Raiz di Polón faz história nestes tempos de muitos lamentos e chorinhos por parte dos artistas. Creio ser de destacar como um dos actuais homens fortes da nossa cultura o dançarino e coreógrafo Manu Pretu, pelo seu grande poder criativo e como mentor