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“ Musica é más ki mi menor, é um Pauta cheio de Memória...”

Texto de Abraão Vicente:

A semana passada foi a semana com maior movimentação cultural de que tenho memória desde a minha chegada à nossa Praia Maria, capital “calderon cultural”(son di santiagu) de Cabo Verde.

Numa só semana : Joaquim Arenas lança “A verdade de Xindu Luz” e abre caminha para a da Feira do Livro, uma grande avalanche de gente faminta de livros a dar a cara e a esvaziar os bolsos na Biblioteca Nacional.
Mais uma vez o Centro Cultural Francês a dar o exemplo e a fazer escola na promoção cultural: Quarta: Trio Sulabanco, Quinta Feira: grande Show de Djinho Barbosa e Trás di Son, Sexta Feira abertura da exposição de reciclagem “Do Lixo ao Luxo” de Kajó, Sabado: Raiz di Polón em tourneé internacional também em terras criolas. Raiz di Polón faz história nestes tempos de muitos lamentos e chorinhos por parte dos artistas.
Creio ser de destacar como um dos actuais homens fortes da nossa cultura o dançarino e coreógrafo Manu Pretu, pelo seu grande poder criativo e como mentor do projecto/escola Raiz de Polón. Por outro lado por representar uns dos expoentes da criatividade Badia pelo menos nos últimos cinquenta anos. É de referir que a dança comtemporânea Caboverdiana nasce práticamente pelas mãos de Manu Pretu e Raiz di Polón. Assim, por toda a agitação patrocinada/promovida na semana passada dou nota máxima ao Centro Cultural Francês e ao seu director David Fajolles.
O Centro Cultural Português também esteve presente nesta semana de grande agitação cultural: Quarta feira lançamento do CD de Lela Violão, Sexta feira: exposição de pintura “Monstros” de Alex da Silva. Outras notas: exposição de Benvinda no Palácio da Cultura; Tó Alves promove grande homenagem a Tchada Santo Antóni e suas figuras, Tó e Zé Carlos a demonstrarem uma grande generosidade ao fazerem-se de promotores deste evento que por certo marcará o ano na capital.

É público e sabido a grande amizade e a relação artística que partilho como o músico e compositor Djinho Barbosa, por isso também talvez seja suspeito falar do tal show que nos levou Trás di Son no Centro Cultural Francês e mais ainda destaca-lo como “O Evento” da semana.

Mas o público esteve presente e podem garantir que não minto e nem muito menos que sou parcial. A sala esteve a arrebentar pelas costuras, houve apertaços, calor, um pouco de sufoco, contaram-me que até houve lágrimas na fila da frente. Eu só posso confirmar um aspecto: Praia respondeu em peso e com todo seu glamour deu motivos as responsáveis do CCF para pensar sériamente em continuar as obras de alargamento da sala de concertos.

A sala estava bonita com direito a iluminaçao especial. Sim, Djinho teve público e um público que esteve ao nível e que aplaudiu cada momento que devia, e soube corresponder com aplausos todos aqueles momentos surpresas que Trás di Son nos reservou. Pude sentir aquele calafriusinho dos momentos que se querem demorados, intermináveis. Pena mesmo foi nâo podermos ter apreciado o trabalho desenvolvido por Cesar Cardoso e João Vieira especialmente para a ocasião.

Como é Obvio “O Evento” da semana nunca é obra de uma só pessoa, muito menos quando sabemos que muito provavelmente uma das maiores virtudes de Djinho Barbosa é saber partilhar o palco. Uma nota avulsa: nunca é demais dizê-lo que Djinho dividiu o protagonismo no seu CD com 35 artistas, grandes e em ascenção no nosso panorama musical. Falemos desses que também subiram ao palco no dia oito. Albertino, sima um pequena xintadu nha frenti fla “forti bu ta canta sabi mos!!” e não vou perder tempo aqui a falar dos lobbies e macaquices que faz com que uns sejam portabandeiras e outros sabe-se lá o que da nossa cultura. Annie, lá do Planalto Central (vulgo Assomada) surpreendeu-nos com sua voz e sua presença ao lado de Albertino. E depois foi o delirio, o pasmo e o espanto e por fim a alegria ao descobrir Leila metida num “Son Kompiladu”. Doze aninhos e uma presença de estrela. Espero que não tenha estado no concerto a pessoa que lançou a pergunta “Quem é a Sucessora de Cesária Évora?’” porque se não logo logo, numa revista qualquer francesa há-de fazer manchete e escola: “Leila, A sucessora de Lura e Mayra!?”. Princesito “Xatiadu Si” deu voz a uma certa música que a mim me marcou e é já um hino e orgulho Badiu: “Ka por si ki mi n’naci negro/ fazedu escravo/ n’ganadu marmi/ ma goci djan ganha /fica escrebedu/ na céu di mundu/ ma nós é más forti/ ki pedra diamanti/ nton nu ta limia”. Sem mais palavras este é um texto que só poderia ter nascido na mente de um sonhador e poeta de nome Princesito, claro está, inspirado pela música de um artista com dimensões exactas de Djinho Barbosa. Acrescento mais, este pensamento devidamente traduzido deveria fazer parte dos principios e código de todo o caboverdiano e toda o negro ciente das suas origens, ma ka só badiu nau guentis.

Última nota para quem esteve no palco a acompanhar nos instrumentos: Ricardo de Deus, dá vontade de pedir a nacionalização imediata deste homem brazileiro de gema, mas cada vez mais: nosso Ricardo na música. Ricardo de Deus faz parte já da mística Praiense no mundo cultural e não me atrevo a entrar em notas técnicas porque eu só falo do que sinto. Agora permitam-me que diga: Luzes Luzes e Luzes para Kisó Oliveira. Kisó tem estado dentro de todas as grandes revoluções na música feita aqui na capital nos últimos anos, de Pantera a Tcheka. Kisó tem estado presente no palco a acompanhar no baixo quase todos os concertos em que se exige que no palco estejam deveras Músicos. Luzes a Kisó por se tratar de um estudioso sério do seu instrumento, o que o põe num patamar muito acima da média. Luzes a Kisó porque a sua descrição e senso crítico fazem dele muitas vezes quase um homem invisível, mas como Djinho diria “Kisó ta tocá KEL baixo”. Nu poi obidu na baixo di Kisó. Jorge irrepreensível na bateria e claro uma ovação a Victor Bettencourt que na sua actual condição física é sa ta da ku pó sem manha. E é hora da verdade, por isso um muito obrigado ao Djinho por ter dado ao Duka a oportunidade de mostrar o que ele no fundo é: um Génio da guitarra. Os momentos em que Duka se entregava às suas improvisações foram sem dúvida os instantes em que se sentiu na sala aquele murmúrio baixinho: Wuaaaaaaauuuuu!! Dá vontade de entrar na cabeça de Duka para ver e sentir o que só ele sente quando toca. Quando os lobbies forem desmacarados então esse badiu também terá o sua placa de homenagem no Palácio da Cultura ao lado dos grandes e quiçás quiçás em Lisboa numa certa casa caboverdiana.

Praia si ki sta. Se há um ano atrás Princesito disse “Praia sta prenha” hoje é mais que evidente que Praia sta parida. E como badiu orgulhoso que sou permitam-me que termine assim: “Ka por si ki mi n’naci negro/ fazedu escravo/ n’ganadu marmi/ ma goci djan ganha /fica escrebedu/ na céu di mundu/ ma nós é más forti/ ki pedra diamanti/ nton nu ta limia”. Mais não digo.

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